Técnica, chamada radiação intra-operatória, é adequada apenas para pacientes que estão no estágio inicial da doença
Uma nova opção de tratamento contra o câncer de mama que substitui
semanas de radioterapia por uma única sessão está sendo avaliada
pelo NHS (National Heath Service), o SUS britânico, e pode passar a
ser oferecido aos pacientes na Inglaterra até o final do ano.
No procedimento, chamado de radiação intraoperatória, uma dose de
radiação é emitida por uma sonda inserida no interior do seio,
depois de o tumor ser removido por meio de uma cirurgia.
A sonda emite radiação do exato local da operação por cerca de 30
minutos.
Caso seja aprovada pelo NHS, a novidade pode beneficiar cerca de 36
mil pessoas no Reino Unido, além de ajudar o NHS a economizar
dinheiro. Entretanto, o tratamento é adequado apenas para pacientes
que estão no estágio inicial da doença.
Atualmente, portadores de câncer se submetem a cirurgias para
remover o tumor e depois pelo menos outras 15 sessões de
radioterapia para aniquilar a doença, o que amplia os efeitos
negativos do tratamento - como náusea, queda de cabelos e perda de
peso.
Única sessão
Testes realizados em mais de 2 mil pessoas indicam que a técnica tem
um efeito similar à radioterapia convencional. No entanto, como o
procedimento foi desenvolvido recentemente, não há dados de longo
prazo disponíveis sobre seus efeitos.
Além de poupar visitas ao hospital, a dose única evitaria um dano
potencial a órgãos como coração, pulmão e esôfago – um risco que o
paciente corre durante a quimioterapia.
O Instituto Nacional de Saúde e Assistência de Excelência (NICE, na
sigla em inglês) afirmou que os prós e contras desse novo tratamento
devem ser informados aos pacientes.
Segundo Carole Longson, diretora de avaliação de tecnologia aplicada
à saúde do instituto, por causa do ineditismo do tratamento, "seu
uso deve ser avaliado cuidadosamente".
"Dessa forma, conseguimos conscientizar os pacientes dos riscos e
benefícios antes de escolher qual tratamento queiram ter, além de
permitir aos médicos reunir mais informações sobre essa nova
técnica".
Na Grã-Bretanha, a ala de radioterapia de um hospital gasta cerca de
30% de seu tempo apenas com o tratamento de câncer de mama. Cerca de
12 mil mulheres morrem anualmente por causa da doença.
No Brasil, o número de mortes devido ao câncer de mama supera 13
mil.
Estimativas anteriores sugerem que uma mudança na radiação
intraoperatória poderia liberar recursos e poupar 15 milhões de
libras (R$ 57 milhões) por ano ao NHS.
Entretanto, o equipamento necessário para executar o procedimento é
caro. Cada sonda custa o equivalente a R$ 1,9 milhão.
Em entrevista à BBC, o professor Jeffrey Tobias, o primeiro a usar a
técnica nos hospitais da Universidade College London, criticou o
atraso da Grã-Bretanha na utilização do novo procedimento.
"Estamos ficando para trás. É uma grande pena. Na Alemanha, por
exemplo, há 60 centros capazes de realizar esse tratamento. Aqui,
temos apenas um", disse.
Se aprovadas, as novas diretrizes podem passar a valer na Inglaterra
até o final deste ano. Outros países que formam o Reino Unido (País
de Gales, Escócia e Irlanda do Norte) têm prazos diferentes para a
introdução do procedimento.
Maior sobrevida
Especialistas afirmam que nova técnica pode evitar danos ligados à
quimioterapia
Para Sally Greenbook, do instituto Breakthrough Breast Cancer,
entidade britânica que promove conscientização sobre o câncer de
mama, quem tem radioterapia "vai ao hospital todos os dias, cinco
dias por semanas por pelo menos três semanas".
"Isso é extremamente inconveniente - é prejudicial para suas vidas,
e a de suas famílias", disse ela à BBC.
"Isso [o novo tratamento] significa que eles podem continuar com o
resto de seu tratamento muito mais rápido, e ter uma maior
sobrevida."
Emma Greenwood, responsável pela Cancer Research UK, ONG que
financia pesquisas voltadas para a cura do câncer no Reino Unido,
disse: "Essa poderia ser uma boa notícia para pacientes com câncer
de mama”.
"Uma única sessão de radioterapia no momento da cirurgia oferece um
grande benefício, uma vez que reduz o número de visitas do paciente
no hospital".
"É essencial que aqueles que se submetam à radioterapia tenham
acompanhamento médico por um longo período. O objetivo é garantir
que essa dose única de quimioterapia seja tão eficaz quanto o
tratamento padrão".
"A radioterapia é um tratamento que já se comprovou eficaz, e esta
técnica poderia oferecer outra opção valiosa para o tratamento de
câncer de mama em estágio inicial."
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